Desde a sua fundação (1940), o Asilo dos Idosos de Vitória tem um vínculo muito forte com a Igreja Católica.
O Asilo iniciou as suas atividades abrigando moradores de rua* nas dependências do Colégio do Carmo, e por um logo período foi administrado por irmãs de caridade da Congregação Vicentina. Ainda hoje, voluntários e padres da Congregação Dom Bosco/Salesianos se unem para celebrar a missa dominical na Capela do Asilo. Entretanto, vale ressaltar que a instituição é laica, e incentiva seus moradores a manterem as suas práticas religiosas.
*Termo utilizado na época – atualmente o termo utilizado é: acolhimento de pessoas em situação de rua.
O que diz o Estatuto da Pessoa Idosa
O art. 10, § 1.º, II da Lei nº 14.423, de 2022 – conhecida como Estatuto da Pessoa Idosa – assegura o direito à liberdade de expressão de crença e culto religioso. Acolhemos pessoas de diversos credos – católicos, evangélicos e espíritas. E incentivamos que cada um pratique a sua fé com liberdade e respeito ao credo dos demais.
Para a maioria das pessoas, a comunidade religiosa é a maior fonte de apoio social fora da família e a participação em organizações religiosas é o tipo mais comum de atividade social voluntária do que todas as outras formas de atividades sociais voluntárias combinadas.
Liberdade de credo e vivência de amor
Em fevereiro, a nossa residente Jolcélia Alves de Santa’Anna expressou o desejo de participar das comemorações do Dia de Iemanjá. Acompanhada pela assistente social, Nirelza Dias, Dona Jolcélia foi ao píer de Camburi e aos pés de Iemanjá fez suas orações, levou flores e conversou com outros devotos.
Espírita, frequentou o Centro Espírita Paz, Amor e Caridade Canabibi. Por 20 anos, atuou como médium e ainda hoje dá conselhos espirituais.
“O trabalho no centro é um trabalho de doação de amor. Pela minha idade fica difícil continuar atuando, mas posso dar amor a quem me visita e está sempre perto de mim” – Jolcélia Alves de Santa’Anna, residente do Asilo
Práticas de promoção da saúde
Estudos comprovam que pessoas ativamente envolvidas em uma comunidade religiosa tendem a manter o funcionamento físico e a saúde melhor do que as que não estão. Lembrando que alguns grupos religiosos defendem e estimulam práticas que melhoram a saúde, como evitar o cigarro, o consumo de determinados alimentos e o uso abusivo de álcool. Assim, ficam menos propensos a desenvolverem doenças relacionadas com essas substâncias, e vivem mais tempo do que a população em geral.
Dona Manoelina é evangélica e antes de vir para o Asilo frequentava a Assembleia de Deus e a Igreja Maranata de Jardim Camburi.
“Não tem coisa mais maravilhosa. Jesus me ajudou a abandonar o vício do cigarro. Jesus reprova quem fuma. Depois que parei de fumar, a minha saúde melhorou.“ – Manoelina Santos Amorim, residente do Asilo
“Muitos idosos relatam que a religião ajuda a enfrentar os problemas de saúde física e a saudade das pessoas queridas (filhos, cônjuges, amigos). Também colabora para uma postura positiva na recuperação de alguma doença. Eles ficam muito sensibilizados quando recebem visitas de instituições religiosas. É uma oportunidade de ampliar o convívio social.” – Nirelza Dias, Assistente Social.
Religiosidade e bem estar
Devota de Nossa Senhora Aparecida e de Nossa Senhora Da Penha , Dona Marlene foi, durante muitos anos, responsável pela organização da Capela do Asilo. Lembra com muito carinho do saudoso Padre Braz, nosso querido Capelão que nos deixou em 2023.
“Estar na Capela me deixa muito feliz. Vamos entrar na Quaresma, um tempo de muita oração. Orar é falar com Deus e Ele sempre escuta o que a gente fala. Conversar com Deus me deixa muito feliz.” – Marlene Colli, residente do Asilo
Pessoas religiosas tendem a ter melhor saúde física e mental do que não religiosas. E quando são questionadas sobre o bem estar e sobre boa saúde, tendem a considerar que a intervenção divina é a razão desses benefícios.
Não existe comprovação real sobre os benefícios da religiosidade na saúde. O que se percebe é que pessoas religiosas são mais positivas e tem uma percepção mais proativa em relação à vida.
Fotos: Acervo do Asilo
Função dos profissionais na prática da religião e espiritualidade
Os profissionais das áreas de Serviço Social, Enfermagem, Cuidadores de Idosos e Psicologia podem conversar com os idosos sobre suas crenças religiosas. Conhecer a crença religiosa da pessoa idosa ajuda a compreender a forma como ela enfrenta questões de saúde, de depressão e pouco convívio social.
Essa compreensão pode ser decisiva na hora de buscar ajuda (por exemplo, aconselhamento espiritual, contato com grupos de apoio, participação em atividades religiosas, ou contatos sociais dos membros da comunidade religiosa). Em algumas situações, um membro da comunidade religiosa pode ser o melhor conselheiro para o idoso que se recusa a tomar medicamentos, iniciar tratamentos mais invasivos, dentre outros.
Os residentes do Asilo sempre recebem visitam de diversos grupos religiosos e faculta a cada idoso a participação ou não nas práticas religiosas propostas. Embora a maioria dos residentes se manifeste como “uma pessoa religiosa”, em alguns dias eles preferem o conforto do quarto à participação nas atividades. E está tudo bem. Afinal, não estamos falando de religião, mas de liberdade.
Anette Musso – 1265/96MTB
